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Massa se diz 'vítima de conspiração' e inicia processo contra Fórmula 1 e FIA por título perdido em 2008

Felipe Massa no paddock durante o GP de Mônaco de Fórmula 1 de 2023 Dan Mullan/Getty Images

Os advogados do piloto Felipe Massa, ex-Ferrari, iniciaram os prodecimentos legais contra a organização da Fórmula 1 e a FIA (Federação Internacional de Automobilismo), pedindo indenização substanciosa por uma suposta "conspiração" que teria tirado do brasileiro o título mundial da temporada 2008.

Uma carta de oito páginas, que foi vista pela Reuters, foi enviada ao executivo-chefe da F1, Stefano Domenicali, e também ao presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem, na última terça-feira (15).

O envio da carta é um mero requisito formal para notificar as partes antes que sejam iniciados de fato os procedimentos judiciais.

De acordo com a firma Enyo Law, baseada em Londres e que atua na defesa do piloto brasileiro, Massa, de 42 anos, foi "vítima de conspiração cometida por diversos indivíduos do mais alto nível da Fórmula 1, junto com a FIA e a Formula One Management[entidade que organiza o Mundial da categoria]".

Os advogados afirmam que Felipe perdeu "milhares de euros" em possíveis premiações e bônus, como resultado de uma batida proposital cometida por outro piloto no GP de Singapura de 2008. A alegação é que tudo foi acobertado pelos dirigentes do alto escalão, vindo à tona apenas em 2009, quando se tornou um escândalo midiático.

A batida, protagonizada pelo também brasileiro Nelsinho Piquet, custou a Massa pontos vitais na tabela. O piloto acabou perdendo o título na última curva da última corrida do ano, depois que o britânico Lewis Hamilton ultrapassou o alemão Timo Glock e foi campeão por apenas um ponto, conquistando seu 1º troféu na carreira.

"Para colocar de maneira simples: o Sr. Massa é o verdadeiro dono do título do Mundial de F1 2008, e a Fórmula 1 e a FIA ignoraram a má conduta [de Nelsinho Piquet] de maneira deliberada, tirando o título do Sr. Massa de maneira trapaceira", escreveram os advogados.

"O Sr. Massa não tem capacidade sequer de quantificar quanto dinheiro perdeu até este estágio, mas a estimativa é que a quantia exceda dezenas de milhões de euros. E esse montante não cobre a perda de moral e reputação sofrida pelo Sr. Massa com o episódio", acrescentaram.

Massa decidiu adotar medidas legais depois que o ex-chefão da F1, Bernie Ecclestone, concedeu uma entrevista em março deste ano na qual disse que ele e o ex-presidente da FIA, Max Mosley, sabiam desde 2008 que Nelsinho Piquet havia batido em Singapura de propósito, mas resolveram não agir naquele momento.

Procuradas pela Reuters, FIA a Formula One Management não se manifestaram até o momento.

Também procurado pela agência, Bernie Ecclestone, atualmente com 92 anos, conversou por telefone com a reportagem e afirmou que "não se lembra" de ter dito nada sobre o episódio de Nelsinho Piquet.

"Eu não me lembro de nada disso, para ser sincero. Não me lembro de ter dado essa entrevista", assegurou o britânico, que deixou o cargo em 2017, depois que a empresa norte-americana Liberty Media assumiu os direitos comerciais da F1.

Ecclestone também salientou que não foi procurado em nenhum momento por Massa e seus advogados para falar do tema.

A batida de Nelsinho Piquet

Massa estava liderando o GP de Singapura em 2008 quando Nelsinho Piquet bateu no muro, na volta 14 de 61 previstas.

A batida fez com que o safety car entrasse no circuito, ajudando o companheiro de equipe de Nelsinho, o espanhol Fernando Alonso, que conseguiu se aproximar do pelotão de frente e acabou ganhando a corrida.

Massa, por sua vez, não pontuou depois que uma trapalhada da Ferrarinopit stop o tirou da corrida.

Em 2009, Nelsinho revelou que bateu de propósito após ordem vinda dos chefes da equipe Renault, que acabariam banidos da modalidade.

Na entrevista concedida ao site f1-insider.com, em março deste ano, Bernie Ecclestone teria dito que sentia "pena" de Felipe Massa.

"Ele foi trapaceado e tiraram dele um título que ele merecia ter vencido, enquanto Hamilton teve toda a sorte do mundo e ganhou seu primeiro Mundial", afirmou.

Em maio deste ano, Massa concedeu entrevista à Reuterse disse que "quer justiça".

"Se as pessoas mais importantes da F1 e da FIA sabiam de tudo em 2008 e não fizeram nada, você acha que o aconteceu foi justo? Não, não foi", apontou.

Na carta enviada nesta semana, os advogados do brasileiro avisaram que, se não houver resposta satisfatória as organizações competentes, serão iniciado um "processo formal para buscar indenização por todos os danos sofridos" pelo piloto.

Ele também quer "reconhecimento de todas as partes de que, sem essas ações ilícitas, ele teria vencido o Mundial de 2008".

Os advogados salientaram que o prazo para resposta é de 14 dias. Caso não haja manifestação, eles irão "começar os procedimentos legais na Justiça da Inglaterra, sem mais notificações formais" às partes.

Massa deixou a Fórmula 1 em 2017, sem nunca ter conseguido ser campeão.

Max Mosley, que era muito próximo a Bernie Ecclestone, faleceu em 2021. Já o ex-diretor de corridas da Fifa, Charlie Whiting, morreu em 2019 - ele era outra peça chave nas investigações sobre o incidente.

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