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Crítica | Arcane é o ápice da animação e traz maturidade para o universo de League of Legends

Arcane estreia neste sábado (06) na Netflix Divulgação/Riot Games

Arcane faz com que a Riot Games eleve a barra de conteúdo multimídia para um nível muito acima para atingir um público que não é necessariamente fã de League of Legends


Você, assim como eu, provavelmente deve ser um fã do universo de League of Legends. Sabe de cor as habilidades de seu “main” e pesa os fatores entre uma boa composição. Ou apenas deve ser um fã dos espetáculos esportivos e ficou o dia inteiro colado na tela do monitor para a vitória de EDward Gaming em cima de DAMWON Gsaming na grande final do Mundial que aconteceu na manhã deste sábado (06).

Porém, a grande maioria dos fãs de LoL não se aprofunda nas histórias intrincadas de seus mais de 150 personagens, a dinâmica das disputas políticas entre as regiões ou particularidades das raças e clãs.

Se você se encaixa nos dois grupos citados acima, peço que se dispa de seu conhecimento prévio antes de ler esta crítica de Arcane, a série animada que estreou no Netflix neste icônico dia 6 de novembro.

Esta é a mais recente empreitada da Riot Games em expandir o universo de League of Legends e apresentá-lo para um público que, talvez, nunca chegue a colocar as mãos no jogo. Arcane é uma animação steampunk rica e que se sustenta por si mesma. Porém, preciso confessar que é muito difícil deixar meu olhar viciado de lado e não ler nas entrelinhas o que está acontecendo e para onde a história está nos levando.

A CIDADE DO PROGRESSO?

Arcane traz uma história que reúne temas simbólicos para qualquer cultura: família, política, preconceitos, luta de classes, ascensão e desgraça. Aqui vamos acompanhar a relação entre duas irmãs que se tornaram inimigas e acabam em lados opostos de uma batalha que envolve a queda de um Status Quo em detrimento ao Progresso.

O cenário é a cidade de Piltover que usa o poder de sua aristocracia para manter a subferia à distância do poder e das decisões políticas. Para isso são colocados dois grupos narrativos que porventura vão se encontrar para alimentar o antagonismo entre um e outro.

Lá do alto da Cidade do Progresso, os piltovences acreditam que estão no ápice do desenvolvimento de Runeterra ao tentar criar magia com base na tecnologia, chamada como Hextec. Vemos o jovem acadêmico Jayce lutando para ter sua mais nova invenção ser aceita pelo conclave academicista, enfrentando a resistência da tradição que diz que “magia é perigosa”.

À primeira vista, tudo é limpo e justo em Piltover, uma cidade onde as pessoas se sentem seguras devido a quantidade enorme de policiamento da Guarda, da erudição de seu povo e seu comércio pujante. Mal sabem os moradores que para essa ordem existir tudo de ruim precisa ir para um lugar. Esse lugar é o esgoto, ou melhor dizendo, a subferia.

É desse lugar que veem o grupo formado por quatro jovens que são apresentados logo nos primeiros minutos de animação. Esses fedelhos buscam tesouros da cidade do progresso para mais tarde vendê-los nos fétidos becos escuros e venenosos.

O centro das atenções desse grupo está no relacionamento das irmãs Violet e Powder e que acaba se mostrando o quão importante são essas duas personagens na história dessa cidade - tanto na de cima, quanto na de baixo. Quem conhece a história de League of Legends ou acompanhou a massiva campanha de marketing, sabe que estou falando das irmãs Vi e Jinx.

Diferente do jogo, no qual apenas dá uma ideia de ambas serem irmãs, Arcane explica como elas se separaram e quais as razões para que esse laço foi cortado.

Ao longo dos três episódios iniciais vemos uma intrínseca construção das personalidades dos protagonistas e fica claro que a cidade, seu sistema de castas e preconceitos estruturais vão culminar na cena de destruição em massa que é mostrada no vídeo de apresentação de Jinx.

Além do pano de fundo que mostra as origens de Jayce, Jinx e Vi e sua relação com Piltover, outros personagens recebem a devida apresentação e aprofundamento em suas origens como o jovem inventor Ekko acaba sozinho, o respeito de toda Academia para com Heimerdinger e a busca de Caitlyn para sair da sombra de seus pais elitistas para criar sua própria história.

Ao mesmo tempo, somos apresentados por personagens importantíssimos e que dão um peso para o desenvolvimento dos personagens, da cultura da cidade e sua subferia.

E vou parar a descrição dos personagens e da cidade por aqui, pois qualquer passo além, pode acabar com a surpresa dos episódios que você vai assistir nas próximas semanas.

Entretanto, gostaria de chamar atenção sobre a forma na qual a personalidade de Jayce nos é apresentada: um rapaz que é seguro de sua pesquisa para criar a tecnologia Hextec para mudar a história de Piltover, mas ainda humilde e ciente de que é um membro de uma "casa menor". Porém, no jogo, Jayce é muito arrogante e quase vilanesco - o oposto do que vemos na série.

Fica a dúvida: será que Arcane vai mudar completamente sua personalidade? Bom, isso é algo que vamos ter que esperar os próximos episódios para saber como isso vai acontecer.

GET JINXED

Se é interessante olhar para esse panteão criado pela Riot e como ele vai interagindo e se interligando, ao mesmo tempo não dá para olhar para a qualidade da animação e não ficar surpreso. É mais do que perceptível que esse é um trabalho que passou por muitos anos em desenvolvimento.

As limpas e brilhantes calçadas e telhados da Cidade do Progresso fazem um contraste com as vielas da subferia e seus perigos. O contraste visual das duas regiões da cidade mostram que existe uma guerra não declarada entre quem vive no topo e quem está em baixo. E também quem é que tem o maior poder de fogo para manter o lixo bem longe dos olhos e narizes aristocráticos.

O estilo da animação por vezes nos dá a impressão de que estamos vendo um quadro em movimento, mas não se deixe enganar. Tudo é feito em uma bela animação em 3D, a melhor da história da Riot - e ouso dizer que de todo o acervo do Netflix. Os fãs com olhares mais atentos notarão diversos easter eggs que vão dar aquele gostinho de satisfação e pausar a cada quadro para ter uma tela digna para colocar de papel de parede no computador.

Isso se estende também para a trilha sonora que tem o típico toque épico e, novamente, traz referências para os fãs do jogo. Não é por acaso que Imagine Dragons foi a banda escolhida para fazer a música de abertura - é a banda que fez a música mais icônica de seu esport.

Arcane é um salto para todo esse universo que a Riot criou ao longo dos 12 anos de League of Legends, mostra a maturidade para tocar em temas complexos ao mesmo tempo em que entrega aos seus fãs uma profundidade para os seus personagens e uma parte de seu mundo e, mesmo que faltem seis episódios para serem liberados, é um comprometimento para fazer com que as histórias não fiquem apenas para os estudiosos de seus livros e sites de referência.

É a guinada multimídia que faltava para que o universo de League of Legends alcançasse um novo patamar de narrativa de seu jogo. Arcane está elevando a barra não apenas de LoL, mas de toda a indústria de videogames.

O potencial está posto, agora resta esperarmos as próximas semanas para entender se os temas que foram tocados serão tão explosivos quanto um mega míssil da morte ou apenas uma armadilha de mordidinhas flamejantes.

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