Há um ponto central que difere o futebol europeu de clubes do sul-americano e é fundamental para análise dos adversários da seleção brasileiranestaCopa do Mundo. É fato indiscutível que os melhores jogadores do mundo, nascidos no hemisfério sul ou no norte, estão na Europa. Logo, as melhores competições entre clubes também.
A cada final de semana pelos campeonatos nacionais ou durante a semana pelas copas nacionais e internacionais, esses jogadores se enfrentam. Isso gera memória competitiva em todos eles. Alguns mais e outros menos, naturalmente, por não estarmos lidando com fórmulas matemáticas, e sim com seres humanos que acumulam experiências cognitivas, sensoriais e corporais.
Ao enfrentaram regularmente os melhores atletas do futebol e, muitas vezes, treinarem com eles, esses jogadores se tornam mais resilientes e acostumados aos grandes desafios. É o que pode ser definido como força média do futebol europeu, fator desequilibrante na comparação ampla com o futebol sul-americano, e que representa o nível intermediário de seleções, as quais são extremamente competitivas. Sérvia e Suíça são dois ótimos exemplos.
A seleção brasileira sabe que terá dois adversários muito complicados pela frente, assim como tem plena consciência do seu favoritismo. Para vencer sérvios e suíços, o Brasil precisará de boas atuações, máxima concentração e muita preparação - algo que já vem sendo cuidadosamente elaborado pela comissão técnica. Diante de Camarões, sem esmorecer, deve ter o confronto menos complicado desta fase de grupos.
Os adversários do Brasil na Copa do Mundo do Qatar Arte/Golden Queen | Getty Images
SÉRVIA: ataque poderoso, defesa nem tanto
O 3-4-2-1 utilizado na maior parte das eliminatórias para a Copa do Mundo foi alterado na Nations League por necessidade. Não necessariamente por problemas do time, mas por virtudes. A ascensão de Dusan Vlahovic na Juventus como um atacante de classe mundial "obrigou" o técnico Dragan Stojkovic a repensar a forma de jogo da seleção sérvia.
Nas vitórias contra Suécia e Noruega, por 4 a 1 e 2 a 0, respectivamente, pelas duas últimas rodadas da Nations, o treinador utilizou o 3-4-1-2 para abrigar Vlahovic ao lado de Aleksandr Mitrovic, jogador do Fulham, no ataque, sacando Filip Djuricic, da Sampdoria. Dusan Tadic, experiente meia-atacante do Ajax, foi utilizado como um jogador de ligação e movimentação no campo de ataque.
O esquema, com dois ou um atacante (Mitrovic é dúvida para a estreia), privilegia muito o avanço dos talentosos alas. Pela esquerda, Filip Kostic, companheiro de Vlahovic na Juve, é um dos melhores no setor em todo futebol mundial; o entrosamento de ambos conta muito para o time, fortíssimo na bola aérea. Pela direita, Stojkovic, lendário ex-jogador do Estrela Vermelha, conta com Darko Lazovic, do Verona, e Andrija Zivkovic (canhoto, que puxa para dentro para finalizar), do PAOK.
Os dois alas recuam na fase defensiva para montarem uma linha com cinco defensores e três ou quatro jogadores na segunda linha, dependendo do esquema tático escolhido, como mencionado acima - variando defensivamente, então, entre o 5-4-1 e o 5-3-2. O bloco defensivo não possui tanto talento individual como as peças de ataque, mas jogadores experientes.
A começar por meio-campistas como Nemanja Gudelj, de 31 anos, jogador do Sevilla, que pode atuar como volante ou zagueiro, e Nemanja Maksimovic (27), acostumado a ser uma barreira defensiva do Getafe em LaLiga. Aliás, 19 dos 26 convocados estão nas cinco grandes ligas europeias - Premier League, LaLiga, Bundesliga, Serie A e Ligue 1. Há ainda o versátil Sergej Milinkovic-Savic (27), da Lazio, capaz de executar a função central no meio-campo sérvio com extrema eficiência, e um dos representantes do título mundial sub-20 de 2015 convocados para a Copa no Catar.
Já entre os zagueiros, a carência de maior talento é notória e motivo de preocupação na imprensa sérvia. E certamente também para Vanja Milinkovic-Savic (Torino), goleiro titular, e os reservas Marko Dmitrovic (Sevilla) e Predrag Rajkovic (Mallorca). Vale lembrar que a Sérvia ficou à frente de Portugal nas eliminatórias para a Copa.
Dragan Stojkovic sabe que tem em mãos um time com vocação ofensiva, forte fisicamente e extremamente competitivo e isso o faz sonhar alto. Em entrevista à revista World Soccer, afirmou "sonhar em alcançar as semifinais". Admitiu ser um objetivo alto, mas que "ninguém tem o direito de dizer a ele não poder sonhar com isso". Por fim, admitiu que o principal objetivo é chegar nas oitavas de final.
SUÍÇA: força coletiva e equilíbrio
O "ferrolho suíço" é um termo histórico que surgiu no futebol em 1938, com a equipe comandada por Karl Rappan. O treinador da seleção suíça buscava formas de equulibrar seu time com adversários mais fortes e desenvolveu uma variação do 2-3-5, esquema tático vigente na época, com dois defensores a mais do que o usual. A imprensa apelidou a estratégia de "verrou", na tradução para português o tão famoso ferrolho.
Certamente o termo voltará a ser utilizado quando muitos se referirem à Suíça nesta Copa do Mundo, mas a realidade é bem diferente. Desde quando assumiu o cargo de treinador há pouco mais de um ano, substituindo Vladimir Petkovic, o ex-zagueiro Murat Yakin trocou a linha de cinco defensores por quatro, vem priorizando o 4-2-3-1 na fase ofensiva, com variação para o 4-4-2 na defensiva, e tem dado mais liberdade de movimentação para seus jogadores; em jogos recentes, o 4-3-3 também foi usado.
Tudo isso não significa que a seleção suíça, do dia para a noite, se tornou um time ofensivo. O padrão de qualidade defensiva permanece, apesar de percalços como o 4 a 0 para Portugal na Nations League. Acima de tudo, o que melhor define essa equipe é a qualidade coletiva. Não há grandes talentos individuais, mas um grupo de atletas que atuam no mais alto nível europeu e que, juntos, já se provaram muito fortes. As quartas de final da última Euro são a maior prova disso, assim como o 2 a 1 contra a Espanha, em setembro, pela Nations - quando venceu com dois gols de bola parada e resistiu à pressão espanhola, permanecendo apenas com 26% da posse de bola, mas cedendo somente oito finalizações em toda partida.
Yann Sommer (Borussia Mönchengladbach) é um dos melhores goleiros do mundo, apesar de ainda ser dúvida para o Mundial. Manuel Akanji (Manchester City), Fabian Schär (Newcastle) e Nico Elvedi (Borussia Mönchengladbach) oferecem a Yakin ótimas opções para a dupla de zagueiros. Silvan Widmer (Mainz) e Ricardo Rodrigues (Torino) são laterais experientes, acostumado a grandes jogos.
Chama atenção a alta idade de alguns protagonistas, como Remo Freuler (Nottingham Forest, 30), Granit Xhaka (Arsenal, 30) e Xherdan Shaqiri (Chicago Fire, 31). A influência de Xhaka nessa equipe tem sido bastante contestada, mas ele ainda é uma peça importante, apesar de muitos pedirem Denis Zakaria (Chelsea) no meio-campo titular.
Já no ataque a média de idade baixa bastante com Breel Embolo (Monaco, 25) como primeira opção para o centro, além de Djibril Sow (Eintracht Frankfurt, 25) para a posição atrás do centroavante e Ruben Vargas (Augsburg, 24) para velocidade e juventude pelo lado do campo; sem falar no jovem Noah Okafor (22), do Red Bull Salzburg.
Na prática, a Suíça é uma equipe altamente competitiva, resistente e capaz de superar qualquer grande adversário. Não entrará como favorita diante desses rivais, mas competirá do início ao fim. Acima de tudo pela força média que ela representa no atual cenário europeu, assim como a Sérvia. Dos 26 convocados, 18 atuam nas cinco grandes ligas do continente.
CAMARÕES: surpresa e indefinições
Dois dos maiores nomes da história do futebol camaronês estão à frente da seleção. O técnico é Rigobert Song, recordista de jogos pela seleção (137) e presente nas Copas de 1994, 98, 2002 e 2010. Acima dele, na presidência da federação camaronesa, o maior artilheiro da seleção com 56 gols, Samuel Eto'o. No entanto, as perspectivas não são positivas.
Camarões garantiu a vaga de maneira supreendente diante da forte Argélia nos playoffs africanos já com Song no comando, escolhido por Eto'o para substituir o demitido treinador português Toni Conceição. São apenas oito jogos da equipe sob o comando do novo técnico, que vive efetivamente a primeira experiência no cargo principal de uma comissão técnica; três vitórias, um empate e quatro derrotas, contando partidas oficiais e amistosos - onde os principais jogadores foram poupados.
Assim, não há claramente um plano tático bem definido e executado de longa data. Pelo contrário, nesse período curto da equipe com Rigobert Song pelo menos três variações já foram utilizadas. No Mundial do Catar o mais provável é que as opções fiquem entre o 4-3-3 e o 4-4-2, e nestes casos as dúvidas pairam sobre o ataque.
Há dois centroavantes potencialmente titulares no grupo: Vincent Aboubakar, de 30 anos, atualmente no Al-Nassr, da Arábia Saudita, e Eric Maxim Choupo-Moting, três anos mais velho e jogador do Bayern. Ambos podem formar uma dupla de ataque ou, como aconteceu muitas vezes nos últimos meses, antes até da chegada de Song, o atacante mais experiente poderia começar no banco. Só que essa última opção é bastante improvável, dado o momento de Choupo-Moting pelo clube bávaro: foram dez gols e três assistências nos últimos dez jogos antes da pausa para a Copa.
Aboubakar, no futebol saudita, ocasionalmente ajuda pelo lado do campo, mas não é sua posição natural. Além disso, Camarões conta com Karl Toko Ekambi, do Lyon, excelente opção de um-contra-um e velocidade, e o "reforço" Bryan Mbeumo, do Brentford, que nasceu na França e começou a ser convocado neste ano - seu pai é de Douala, capital camaronesa.
No meio-campo, com dois ou três jogadores na faixa central, um deles será André-Frank Zambo Anguissa, um dos destaques do Napoli; assim como no gol o titular será André Onana, da Internazionale. Além deles, pelo espaço que conquistou na equipe, vale mencionar Samuel Gouet, meio-campista de 24 anos, que defende o Mechelem (Bélgica) e é o jogador de maior capacidade defensiva no setor.
Na prática, Camarões possui a seleção mais fraca do Grupo G, mas que já esteve em momento pior. A evolução individual de alguns dos seus atletas na temporada europeia indica maior confiança, mas nada que altere a condição técnica da equipe. Se uma campanha como a de 1990 é absolutamente improvável, os Leões Indomáveis buscarão ao menos encerrar a série de sete derrotas seguidas em Mundiais. A última vitória da seleção camaronesa em uma Copa do Mundo aconteceu em 2002, 1 a 0 contra a Arábia Saudita, gol de Samuel Eto'o.
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